Goiânia Metrópole, após 1946: Sonhadores e escafandristas

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Título: Goiânia Metrópole, após 1946: Sonhadores e escafandristas

Autoria: Wilton Medeiros

ISBN: 978-65-5364-492-2

DOI: 10.47402/ed.ep.b25401922

Data de Publicação: 06/12/2025

"Entre o sonho de papel e a cidade pulsante, Goiânia escreve sua história como um campo de batalhas entre ideais e realidades."

Mergulhe nas ruas onde o urbanismo perdeu para a poeira — e o cerrado calçou as botas da história. Entre ideais bandeiristas e práticas cotidianas, este livro revela tensões, convergências e o legado de uma cidade em constante reinvenção. Uma leitura instigante para quem deseja compreender a alma e a forma da capital goiana.



Este pequeno livro é mais do que um recorte de pesquisa: é um fragmento de minha própria trajetória acadêmica e profissional. Como arquiteto e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás, na cidade de Anápolis, sempre encontrei na forma urbana e em suas narrativas um campo fértil de investigação e ensino. Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás, defendi, em 2010, uma tese que buscava compreender as múltiplas camadas que moldaram Goiânia — entre o sonho idealizado no traçado original e a realidade construída no tempo. Aqui, apresento ao leitor um extrato desse trabalho, revisitado com a maturidade e a perspectiva que os anos trouxeram. Não se trata apenas de olhar para a cidade como um objeto físico, mas como uma construção social e simbólica, permeada por tensões, disputas e encontros. Meu desejo é que este texto dialogue com pesquisadores, estudantes, profissionais e todos aqueles que se interessam pela história e pela arquitetura de nossas cidades. Que possa inspirar reflexões, despertar curiosidades e, sobretudo, contribuir para que compreendamos que o espaço urbano é sempre mais do que concreto e asfalto: é memória viva, feita de sonhos e realidades que se entrelaçam no cotidiano.

É comum ouvirmos que Goiânia nasceu do sonho de um homem só. Que surgiu, quase como um milagre no cerrado, das mãos visionárias do interventor Pedro Ludovico Teixeira, o homem forte de Getúlio Vargas em Goiás. Obviamente, a Pedro Ludovico foi a pedra fundamental do projeto. Mas como toda cidade que se pretende símbolo de uma era, Goiânia também foi feita de muitos nomes que atuaram nos bastidores ou em outras berlindas, ou mesmo de indivíduos que ficaram à margem da narrativa oficial, mas que, sem eles, a Nova Capital talvez nunca tivesse se tornado realidade.

Neste sentido, o livro Goiânia Metrópole, após 1946: sonhadores e escafandristas, do Arquiteto e doutor em História Wilton de Araujo Medeiros, realiza um importante resgate histórico da atuação de duas figuras de relevo no processo de transferência da capital. O primeiro é o governador Jerônimo Coimbra Bueno, homem que foi fundamental para sedimentar o projeto ludoviquista em Goiás, acoplando a ele suas próprias perspectivas, pessoais e políticas. O segundo personagem é o deputado federal Peixoto da Silveira, cuja atuação no Rio de Janeiro, então Capital Federal, foi decisiva para garantir o sucesso da gigantesca empreitada de erguer uma cidade no meio do nada, no meio do cerrado.

Usando tipologias de inspiração weberianas, o autor define Jerônimo como um sonhador e Peixoto, como um escafandrista, justificando o instigante título da obra. Contudo, para compreender o sentido profundo do uso dessas palavras é necessário fazer sua leitura atenta. Quem se arriscar será recompensado.

Wilton Medeiros traça dois perfis políticos intrigantes e divergentes. Coimbra Bueno era um homem de estrada e de Estado. Quando assumiu o governo, em 1947, encontrou uma cidade jovem, mas ainda vacilante. Os palácios ainda estavam sendo erguidos, mas o sentimento de pertencimento ainda não tinha criado raiz. Foi ele quem compreendeu que Goiânia precisava mais do que muros e praças para se estabelecer. Precisava de um governo que a legitimasse, que a fizesse pulsar como centro político, administrativo e cultural de Goiás. Esse era seu sonho. Inspirado por ele, afirmou: “Esta cidade é o espelho do que desejamos ser. Moderna, justa, nossa.” Goiânia Metrópole, após 1946: sonhadores e escafandristas.

Peixoto da Silveira, por sua vez, atuava como se lançasse pontes invisíveis. Enquanto os olhos do país estavam voltados para o litoral e os grandes centros, ele falava de Goiás com firmeza e eloquência. Não era um orador inflamado. Era um homem de argumentos. Sabia onde pressionar, com quem conversar, quando recuar. Sua política era feita de precisão e persistência. Ele entendia que Goiânia não podia ser apenas uma utopia regional: precisava ser reconhecida como parte de um projeto nacional. Trabalhou incansavelmente por isso, mergulhou como um escafandrista nas complexidades e entrelinhas dos bastidores do poder, usando toda sua cultura, erudição e conhecimento para justificar sua missão.

Os dois trabalharam ao lado de Pedro Ludovico, que seguia como protagonista. Mas este livro propõe que ampliemos o campo de visão. Que olhemos não só para a figura do Fundador, que apresentava a si mesmo como o “arquiteto de Goiânia”, mas que possamos conhecer outros pilares dessa mesma obra. Uma cidade, e um projeto político, não se constroem sem que um grande grupo de aliados derrame sangue, suor e lágrimas. O gesto político refinado de Peixoto e a determinação sensata de Coimbra Bueno estiveram neste momento de Goiânia.

Este livro trata, sobretudo, do pós-1946, quando Goiânia já havia passado por seu Batismo Cultural. Era uma realidade. O mundo vivia o período do pós-guerra, entrando na Guerra Fria. O mundo estava mudando. Goiânia nascia. Três de seus gestores, Pedro, Coimbra e Peixoto precisavam protegê-la para fazê-la crescer forte para enfrentar as radicais mudanças que se avizinhavam. Ler o livro de Wilton Araujo Medeiros é como voltar a caminhar pelas ruas empoeiradas de uma Goiânia que ainda não sabia o tamanho de si mesma.

Ademir Luiz é doutor em História, professor da Universidade Estadual de Goiás, presidente da União Brasileira de Escritores Seção de Goiás e membro da Academia Goiana de Letras.